Cuidado! Há um abismo abaixo do amor

Nesta oscilante e aventureira ponte apelidada carinhosamente de "caminho do amor", creio que sempre haja o risco do tropeço e do desequilíbrio, do mergulho no erro e da vida em trevas, pelo fato de, por instinto, o amor levar à cegueira.

Penso que o amor pode ser chamado de "lindo", mas que, se tem uma característica que bem justifica sua existência, esta é a força, poder místico e alucinante de caráter 100% sobrenatural, suficientemente capaz de fazer com que seres humanos aparentemente comuns sintam certa sensação obrigacional de cuidado, zelo, amparo, consolo e caridade.

Posso dizer que sou fascinado por esta definição humanamente utópica, mas confesso que fico triste por, na prática, ver indivíduos adicionando, ao amor, sentimentos egoístas e de posse, aos quais atribuo conceitos diferentes, sendo, o primeiro, o abismo infinito, o grande causador de todos os males, por poder gerar atitudes cruéis e imprevisíveis; e, o segundo, um efeito colateral não-descartável de um altruísmo dotado de leve porcentagem de um sentimento egoísta, sendo este, para mim, o único gênero de altruísmo possível e existente, o que já é assunto para um tópico futuro.

Prometi que não falaria de religião, e não falarei. Porém, há um raciocínio que utilizo como teoria para explicar as angústias e problemas deste mundo: Acredito que Deus queira que sintamos o que Ele sente, para que saibamos o quanto algumas de nossas atitudes podem ser dolorosas para Ele.

Quando você é traído(a) em um relacionamento, o que você faz? Deus te perdoa, mesmo que você o tenha traído mil vezes. Como você se sente quando alguém te troca por outra pessoa? Deus se sente da mesma forma quando o deixamos de lado.

Tentarei explicar melhor: Você encontra o amor da sua vida e sente que nasceram um para o outro. A ligação existente é tão forte e tão quente que ambos vivem em harmonia como se uma só carne fossem. Nada parece mais precioso que o cheiro, o perfume que sai da encantadora pessoa pela qual você está desorientado(a) de tanto amor. Apenas um sorriso basta para que você sinta seu dia sendo iluminado. Seus sentimentos  por si próprio(a) chegam a ser imperceptíveis, pois seus pensamentos são tomados pelas lembranças de seus recentes bons momentos em casal. Você acredita estar vivendo em um conto de fadas. Sua alma tem paz, pois vossa mente e coração mostram que não há nada com o que se preocupar. Tudo está correndo muito bem. A felicidade paira sobre a sua vida. Certo dia, então, você descobre que o ser humano que "te completa" está te traindo, tem um(a) amante, com o(a) qual se relaciona três vezes por semana, desde sempre.

Seríamos nós capazes de perdoar tão lamentável traidor(a) de sincero coração, vivendo como se nada houvesse acontecido? Deveríamos, pois o ser que nunca falha e nunca erra, aquele, o único digno de ser chamado perfeito, nos perdoa em situações piores do que a narrada acima. Este ser maravilhoso, que é Deus, lavou os pés de Judas, já sabendo que este o trairia.

Alguém santo lavou os pés de seu traidor. E nós, que não somos nem de longe perfeitos, o que deveríamos fazer àqueles que nos fazem o mal? Fica esta pergunta para reflexão. Até a próxima semana.